Um olhar “Coruja” sobre a criança

“Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva.”

É inegável que a criança revela, cada vez mais, sua capacidade intelectual. O intelecto se desenvolve a partir do amadurecimento dos órgãos, especialmente do cérebro, e dos estímulos externos gerados pela família, escola e sociedade.

Entretanto, é o vínculo afetivo que desperta na criança o interesse natural por conhecer, a fome de saber. Nas primeiras fases da vida, ela é naturalmente investigativa e relaciona-se de maneira autêntica, afetiva e curiosa ao mesmo tempo. É mais sensação e afeto do que intelecto. As emoções fazem parte do seu mundo íntimo e são expressas à medida que se relaciona com o mundo.

Afeto e emoção, duas palavras de origem latina, significam movimento. Por isso, a educação da criança, em seu sentido mais amplo, não é estática: deve ser pensada como a possibilidade de extrair da criança os potenciais que ela carrega e auxiliá-la no direcionamento de seus saberes.

Também a palavra “Educação”, em português, vem de “Educar”, cuja origem é o latim educare: ex (fora) + ducere (guiar, conduzir). Logo, “Educação” significa “guiar para fora”. O conhecimento acontece de dentro para fora – e o afeto permeia todo esse processo.

O ilustre psiquiatra Içami Tiba afirmou que “o afeto manda a ordem para o coração”. Envolvida pelo afeto, a criança responde de acordo com sua capacidade e não apenas por exigência do adulto.

Talvez pudéssemos representar esse olhar sobre a educação infantil com o texto de Rubem Alves:

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.”

Não podemos esquecer que o desenvolvimento da criança é processual e contínuo, tendo como base o cuidado e o afeto. Família e escola devem compreender e acolher as emoções dos pequenos com serenidade, auxiliando-os na construção de sua autonomia.

Texto de autoria de Mabel Maciel Neves – Psicóloga – CRP: 08/02801

Últimas postagens

Preencha os dados Abaixo e recebe nosso E-book